Introdução
As estatais com prejuízo bateram recorde histórico em 2025, acumulando déficit de R$ 8,9 bilhões entre janeiro e agosto. Esse valor representa o maior rombo desde o início da série histórica do Banco Central em 2001, superando em mais do dobro o resultado do mesmo período em 2024. Os Correios lideram isoladamente essa lista negativa, respondendo sozinhos por mais da metade de todo o prejuízo das empresas estatais brasileiras.
Neste artigo, você vai descobrir quais são as estatais com prejuízo mais críticas, entender as causas profundas dessa crise e analisar se privatização é realmente a solução. Além disso, vamos investigar os 12 trimestres consecutivos de prejuízo dos Correios e o que está por trás do colapso financeiro da maior empresa estatal do país.
📉 As 5 estatais com prejuízo que lideram o ranking do rombo em 2025
Das 44 estatais controladas diretamente pela União, 12 registraram resultado líquido negativo em 2024, segundo dados do Ministério da Gestão e Inovação. Entretanto, cinco empresas concentram a maior parte dos prejuízos acumulados. Veja o ranking completo das estatais com prejuízo mais críticas:
1. Correios: R$ 2,6 bilhões de prejuízo em 2024
Os Correios, que enfrentam crise bilionária e recentemente anunciaram plano de reestruturação incluindo pedido de empréstimo de R$ 20 bilhões, lideram isoladamente a lista. Primeiramente, o rombo mais recente divulgado foi de R$ 5,6 bilhões calculado com base no balanço de junho de 2025. Ademais, no primeiro semestre de 2025, a empresa acumulou prejuízo de R$ 4,37 bilhões, após já ter encerrado 2024 com déficit de R$ 2,6 bilhões.
2. CBTU: R$ 1,1 bilhão de prejuízo
Em segundo lugar está a CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), responsável por operar o sistema ferroviário urbano em diversas capitais, com prejuízo de R$ 1,1 bilhão em 2024. A empresa enfrenta problemas crônicos de infraestrutura e baixa demanda em várias cidades.
3. Embrapa: R$ 375 milhões de prejuízo
Na sequência aparece a Embrapa com déficit de R$ 375 milhões – A empresa de pesquisa agropecuária sofre com cortes de investimento e aumento de custos operacionais.
4. Infraero: R$ 229 milhões de prejuízo
A Infraero registrou prejuízo de R$ 229 milhões em 2024. A estatal perdeu receita significativa após concessões de aeroportos ao setor privado nos últimos anos.
5. Ebserh: R$ 132 milhões de prejuízo
A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares completa a lista dos cinco piores resultados com déficit de R$ 132 milhões A empresa gerencia hospitais universitários e enfrenta crescimento de demanda sem aumento proporcional de recursos.
🚨 Correios em colapso: 12 trimestres consecutivos de prejuízo e pedido de R$ 20 bilhões
A situação dos Correios é a mais dramática entre todas as estatais com prejuízo. A estatal acumula 12 trimestres consecutivos de resultados negativos, com déficit de R$ 4,36 bilhões apenas no primeiro semestre de 2025. Consequentemente, a crise financeira atingiu patamar tão grave que a empresa está negociando empréstimo de R$ 20 bilhões com instituições financeiras.
No ano passado, a empresa utilizou R$ 2,9 bilhões de seu caixa e aplicações financeiras, representando 92% do que estava disponível em 2023. Além disso, o fluxo de caixa sofreu forte deterioração: em 2023 os Correios tinham R$ 3,2 bilhões disponíveis, mas fecharam 2024 com apenas R$ 249 milhões, queda de 92%.
Por outro lado, em julho os Correios oficializaram o adiamento do pagamento de R$ 2,75 bilhões em obrigações, justificando a medida como essencial para preservar o caixa e evitar colapso iminente. Portanto, a situação é de emergência absoluta entre as estatais com prejuízo.
Segundo o presidente Emmanoel Schmidt Rondon, o empréstimo é urgente para restaurar a liquidez e honrar compromissos essenciais como pagamento do Plano de Demissão Voluntária (PDV) e manutenção das operações. Nesse sentido, sem o crédito, a empresa pode entrar em colapso total ainda em 2025.
💼 O que causou o rombo dos Correios? Folha salarial dispara R$ 4,7 bi em 3 anos
Entre as estatais com prejuízo, os Correios apresentam causas múltiplas e complexas para o déficit histórico. Primeiramente, grande parte está relacionada aos gastos com pessoal, que cresceram continuamente desde 2022. Veja a evolução alarmante:
Em 2022, dois reajustes salariais elevaram os custos em R$ 820 milhões, além de bônus e benefícios. Além disso, em 2023 o impacto chegou a R$ 1,3 bilhão, e em 2024 novas negociações coletivas ampliaram a folha em R$ 894 milhões. Finalmente, em 2025, apenas no primeiro semestre, os custos salariais aumentaram R$ 547 milhões.
Ademais, entre 2022 e 2024, os gastos totais com pessoal saltaram de R$ 15,2 bilhões para R$ 19,9 bilhões. Portanto, em apenas três anos, a folha de pagamento cresceu R$ 4,7 bilhões, representando aumento de 31%.
Por outro lado, a estatal assumiu dívida previdenciária de R$ 2,4 bilhões com a PREVIC, relacionada ao Plano de Benefício Definido (PBD), com previsão de pagamentos até 2054. Consequentemente, esses compromissos de longo prazo ampliam o rombo financeiro e comprometem o caixa por décadas.
📦 Taxa das blusinhas derruba receita: Correios perdem R$ 2,2 bilhões em um ano
Outro fator crítico que coloca os Correios no topo das estatais com prejuízo foi o programa Remessa Conforme. Criado em 2023 pelo Ministério da Fazenda, o programa aprofundou a crise nos Correios. Mas como exatamente isso aconteceu?
A introdução do programa Remessa Conforme, em 2023, reduziu a receita dos Correios em R$ 2,2 bilhões. Primeiramente, a cobrança de 20% de imposto sobre compras internacionais de até US$ 50 permitiu que outras empresas de transporte atuassem no Brasil, diminuindo a participação da estatal.
Além disso, no primeiro semestre de 2025, a receita com encomendas internacionais foi de R$ 815 milhões, contra R$ 2,1 bilhões no mesmo período de 2024. Ou seja, a queda representa perda de R$ 1,3 bilhão em apenas seis meses. Consequentemente, esse segmento que respondia por cerca de 25% do faturamento encolheu drasticamente.
Portanto, enquanto o governo federal criava políticas para aumentar arrecadação tributária, acabou destruindo uma das principais fontes de receita da maior das estatais com prejuízo. Nesse sentido, houve falta de coordenação entre diferentes áreas do governo.
⚖️ Precatórios trabalhistas triplicam: R$ 1,6 bi em dívidas judiciais
Além dos custos diretos com pessoal, os Correios enfrentam explosão de passivos judiciais. O número de precatórios aumentou significativamente, alcançando R$ 1,6 bilhão em junho de 2025, mais que o triplo do registrado em 2022. Ademais, um acordo com o Tribunal Superior do Trabalho em 2023, envolvendo 3.781 ações trabalhistas, comprometeu a empresa a desembolsar valores expressivos.
Consequentemente, para 2025 estão previstos R$ 913 milhões em pagamentos de precatórios, e novas derrotas judiciais podem elevar esses custos nos próximos anos. Portanto, esse é um problema estrutural que diferencia os Correios de outras estatais com prejuízo.
Por outro lado, especialistas apontam que muitas dessas ações trabalhistas resultam de gestões anteriores que violaram direitos dos funcionários. Assim sendo, o governo atual paga a conta de decisões tomadas há anos ou décadas.
🏢 85% das agências dão prejuízo: a armadilha da obrigação universal
Um aspecto pouco debatido sobre as estatais com prejuízo é a questão das obrigações de serviço universal. Atualmente, 85% das mais de 10 mil agências dos Correios operam com déficit, ou seja, apenas 15% das 10.638 unidades geram superávit.
Entretanto, a estatal mantém compromisso de oferecer serviços em todos os 5.567 municípios do país, conforme determina a União Postal Universal (UPU). Consequentemente, essa obrigação impede o fechamento de unidades deficitárias, tornando a reestruturação mais complexa e custosa.
Em outras palavras, os Correios precisam manter agências em cidades pequenas e remotas onde jamais terão lucro, mas são essenciais para garantir direito constitucional de comunicação. Portanto, diferentemente de empresas privadas que podem fechar unidades não lucrativas, as estatais com prejuízo têm obrigações sociais que impactam o resultado financeiro.
🔄 Plano de reestruturação: cortes, demissões e venda de imóveis
Para tentar sair da lista das estatais com prejuízo, a nova gestão dos Correios aposta em plano estratégico baseado em três pilares: redução de despesas, diversificação de receitas e recuperação da liquidez.
Redução de Despesas: lançamento de novo PDV para enxugar a folha de pagamento e renegociação de contratos com fornecedores estratégicos. Entretanto, ainda não foram divulgados detalhes sobre quantos funcionários poderão aderir ou valores oferecidos.
Diversificação de Receitas: lançamento de novos produtos e serviços ainda não detalhados e venda de imóveis ociosos. Ademais, os Correios devem ampliar a atuação em serviços financeiros e de seguridade.
Recuperação da Liquidez: obtenção do empréstimo para reequilibrar o caixa e garantir sustentabilidade da empresa entre 2025 e 2026. Além disso, a empresa enfrenta longo caminho de reestruturação após 12 trimestres consecutivos de prejuízo.
Por outro lado, apesar das dificuldades, os Correios investiram R$ 830 milhões em 2024, totalizando R$ 1,6 bilhões desde 2023. Portanto, existe esforço de modernização mesmo em meio à crise.
🎯 Governo defende estatais com prejuízo: resultado primário não é tudo
O governo argumenta que o resultado primário não é o indicador mais adequado para medir a saúde financeira de uma companhia. Essa defesa é fundamental para entender a posição oficial sobre as estatais com prejuízo.
Primeiramente, o MGI argumenta que se uma empresa realiza investimentos ou paga dividendos aos acionistas utilizando recursos acumulados em anos anteriores, isso pode gerar déficit no resultado primário sem necessariamente indicar desequilíbrio financeiro.
Além disso, o governo reforça que o resultado primário é calculado sob ótica das finanças públicas, seguindo metodologia do Orçamento da União, e não reflete necessariamente a situação de caixa ou desempenho mercadológico da empresa.
Finalmente, “um déficit primário pode indicar um ciclo de investimento intensivo, financiado por recursos previamente acumulados ou por endividamento planejado, e não necessariamente uma falha de gestão ou insuficiência de receitas operacionais”, afirma o MGI.
Entretanto, críticos argumentam que essa visão desconsidera a realidade de caixa dos Correios, onde faltam recursos até para pagar fornecedores básicos. Portanto, o debate sobre estatais com prejuízo vai além de metodologias contábeis.
📊 Estatais com prejuízo: PT x PSDB x Bolsonaro – quem administrou pior?
Historicamente, os resultados das estatais oscilam conforme o governo: durante o primeiro mandato de Lula houve superávit; já no governo Dilma Rousseff as perdas se ampliaram. Ademais, posteriormente, sob Michel Temer e Jair Bolsonaro, as contas voltaram ao azul, encerrando 2022 com superávit de R$ 6,1 bilhões.
Por outro lado, embora a administração atual atribua os problemas financeiros à gestão passada de Bolsonaro, os dados mostram que a estatal obteve lucro em três dos quatro anos do governo Bolsonaro. Consequentemente, o debate sobre estatais com prejuízo se politiza intensamente.
O presidente dos Correios Fabiano Silva afirma que a empresa foi duramente sucateada no governo anterior numa estratégia para justificar sua privatização. Além disso, “entre 2019 e 2022, vimos fechamento de centenas de agências, cortes de investimentos em tecnologia e segurança, perda de clientes e queda na qualidade dos serviços”, explica Silva.
Entretanto, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, defendeu privatização como saída para prejuízos recorrentes, criticando a condução das estatais durante os governos do PT, afirmando que “elas sempre dão prejuízo” sob gestão do partido.
Portanto, o tema das estatais com prejuízo virou cabo de guerra político, dificultando soluções técnicas efetivas.
Conclusão: estatais com prejuízo podem se recuperar sem privatização?
As estatais com prejuízo acumulam rombo histórico de R$ 8,9 bilhões em 2025, com os Correios respondendo sozinhos por mais da metade desse déficit. A situação é crítica, especialmente considerando que se trata do maior prejuízo desde 2001. Entretanto, a questão central permanece: privatização é a única solução ou existe caminho de recuperação mantendo o controle estatal?
Com rombo sem precedentes e resistência política à privatização, especialistas apontam que modernização e eficiência administrativa serão cruciais para que as estatais, especialmente os Correios, retomem sustentabilidade e evitem novo colapso financeiro.
Para os Correios especificamente, o sucesso do plano de reestruturação dependerá de três fatores: aprovação do empréstimo de R$ 20 bilhões, sucesso do PDV em reduzir folha salarial e capacidade de diversificar receitas rapidamente. Ademais, será necessário equilíbrio entre obrigações sociais de atendimento universal e viabilidade econômica.
Você depende dos serviços dos Correios ou trabalha em alguma estatal? Compartilhe este artigo e deixe seu comentário sobre qual você acha que é a melhor solução para a crise das estatais brasileiras!